Sessenta dias antes da data de parto prevista, a vaca em lactação deve passar pela secagem. A partir daí ela não é mais ordenhada e cessam os estímulos para a descida do leite até o momento do parto, esse é o famoso período seco da vaca!
Para entender o momento certo da previsão de parto é extremamente importante poder confiar nos dados disponíveis na propriedade para se fazer este cálculo.
Quando a fazenda mantém um registro consistente de informações sobre a vida reprodutiva do animal, torna-se mais fácil determinar o momento exato da secagem, respeitando um período que, além de importante, é fisiológico.
Mas, afinal, qual a importância do período seco? Para entender isso você precisa conhecer um pouco mais sobre as mudanças no organismo da vaca nesta época…
O que é o período de vaca seca?
O período seco da vaca é uma fase de preparação para a próxima lactação, ele normalmente tem início nos 60 dias anteriores ao parto, no 7º mês de gestação.
Durante estes dois meses que faltam até o próximo parto, acontece a regeneração das células da glândula mamária.
O que acontece com vaca leiteira durante o período seco?
É neste período que há aumento abrupto na demanda por nutrientes, pois é quando ocorrem dois terços do crescimento fetal. A interrupção da lactação permite que estes nutrientes sejam mobilizados para o feto.
Por isso, o período seco é muito importante tanto para a vaca quanto para a cria.
Fases do período seco
O período seco pode ser classificado em três fases:
Período de involução ativa:
Esta fase tem início após a última ordenha e dura cerca de trinta dias. Após a secagem, o úbere retém cerca de 80% do volume de produção diária. Como a retirada do leite é interrompida, observa-se um aumento da pressão intramamária, provocando a degradação das células da glândula mamária e a dilatação do canal do teto.
Das três fases, esta é a que mais representa risco para novas infecções intramamárias, sendo que as duas primeiras semanas são críticas.
Período de involução constante:
Não apresenta limites claros, variando de acordo com a duração do período seco. Além disso, corresponde ao estágio onde a glândula mamária encontra-se completamente involuída.
Durante esta fase, observam-se as menores taxas de novas infecções intramamárias, pois a glândula involuída é mais resistente e forma-se um tampão de queratina na entrada do teto, obstruindo a passagem de potenciais microrganismos.
Período de lactogênese/ colostrogênese:
A última fase é regida pela ação dos hormônios no final da gestação.
Diferentemente do período de involução ativa, esta fase é marcada pela intensa atividade celular: ocorre regeneração e diferenciação das células epiteliais que secretam o leite e o acúmulo de imunoglobulinas e células de defesa que compõem o colostro.
É nesta etapa que há aumento da concentração dos principais componentes do leite, como por exemplo gordura, caseína e lactose.
Nos dias que antecedem o parto, há uma queda nas defesas imunológicas da vaca e, por isso, esta fase também representa risco para o estabelecimento de infecções intramamárias, principalmente as causadas por microrganismos ambientais.
Hora da vaca seca: Cuidados pré secagem
Ao chegar no período seco, a vaca deve reunir boas condições nutricionais e um bom status sanitário.
A falta de cuidados neste período pode ocasionar queda no potencial produtivo, interferência na atividade reprodutiva, aumento do intervalo entre partos, nascimento de bezerros menores e problemas sanitários como metrite, retenção de placenta e mastite.
Isso sem falar nos impactos negativos sobre o potencial produtivo das lactações futuras. Alguns pesquisadores relacionam a duração do período seco com a produção das vacas a longo prazo.
Veja aqui um infográfico com 7 passos para secar uma vaca de forma segura!
Cuidados pós secagem
Após a secagem, as vacas devem ser alojadas em um ambiente seguro e confortável. Sombra, disponibilidade de forragem, alimento, água, densidade animal e espaço de cocho adequado são itens indispensáveis no ambiente da maternidade.
E, por falar nisso, já temos um material super completo sobre como a água é fundamental para o desempenho dos bovinos de leite.
Além disso, as vacas devem ficar em um local acessível, para facilitar a visualização dos animais e uma intervenção, caso seja necessária.
Mastite no período seco:
Como dito acima, o risco de novas infecções intramamárias aumenta nestes 60 dias, podendo haver maiores taxas de novas infecções no período seco do que durante a lactação. Essas novas infecções são um dos grandes motivos que influenciam a ocorrência de mastite clínica no início da lactação.
Em resumo, os principais fatores que facilitam a instalação de novas infecções nesta fase são:
- Aumento da pressão interna do úbere pelo grande volume de leite acumulado;
- Maior facilidade para a penetração de microrganismos, devido à dilatação do canal do teto causada pelo acúmulo de leite;
- Interrupção das ordenhas, fazendo com o que o leite retido se torne um excelente substrato para o crescimento de bactérias;
- Direcionamento das células de defesa para outras funções;
- Interrupção da rotina de desinfecção na ordenha e consequente proliferação de bactérias na pele do teto.
Portanto, recomenda-se que o controle da mastite seja feito também nesta época. Durante estes 60 dias, é mais comum que as infecções sejam de origem ambiental, sendo que o risco é maior quando o ambiente reúne condições inadequadas como altas temperaturas, umidade e acúmulo de matéria orgânica.
As estratégias de controle são baseadas na redução da exposição aos agentes patogênicos com ações direcionadas à melhoria do ambiente e também na redução de quartos mamários infectados no ato da secagem.
Ao final da lactação, as vacas devem ser submetidas à terapia de vaca seca e monitoradas pelo menos nas duas semanas críticas após a secagem.
Basicamente, os dois objetivos principais da terapia de vaca seca são tratar infecções existentes, adquiridas durante a lactação e prevenir novas infecções.
Depois de tanta coisa que foi dita sobre o assunto, fica a dica: o período seco é fundamental para se obter uma boa produtividade da vaca na próxima lactação e para assegurar que não faltem nutrientes para o bezerro no período onde a demanda é mais alta.
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