Depois do oxigênio, a água é o nutriente mais importante para vacas de leite. A quantidade de água necessária por unidade de massa corporal das vacas de alta produção leiteira são maiores do que a de qualquer outro mamífero do mundo!
Isso acontece por um ótimo motivo! Nossas amadas vaquinhas tem a função de produzir uma grande quantidade de leite, que é constituído por 87% de água.
Por que a água é importante para as vacas?
Ela é necessária para todos os processos da vida dos nossos animais.
A água impacta desde o transporte de nutrientes e outros compostos para as células, digestão e metabolismo de nutrientes, eliminação de resíduos (urina, fezes, e respiração) e excesso de calor (suor) do corpo até a manutenção do balanço hidroeletrolítico e composição do fluido para o desenvolvimento fetal.
A baixa ingestão de água pelos animais tem como consequência:
- Aumento dos valores de hematócrito
- Aumento da concentração de uréia no sangue do animal
- Redução da taxa respiratória
- Diminuição da contratilidade ruminal
- Reduzição do peso vivo e a produção de leite
- Provocar agressividade dos animais em torno de bebedouros
Infelizmente a ingestão de água por vacas leiteiras não é considerada um fator limitante potencial para a produção de leite nas fazendas modernas.
Normalmente os produtores voltam a sua atenção para outros nutrientes da dieta, sendo a quantidade e qualidade da água desconsideradas, o que pode ser um erro crucial do seu processo produtivo.
A porcentagem de água para cada estado fisiológico da vida do animal
As vacas leiteiras em geral podem possuir de 56 a 81% de todo o seu peso corporal constituído por água, sendo que, obviamente, o estado fisiológico e a composição corporal do animal afetam a porcentagem total desse conteúdo no organismo, vamos detalhar:
- Vacas no início da lactação apresentam 69% do peso vivo em água;
- Vacas em lactação mais avançada têm 62,4% desse nutriente presente;
- Vacas secas com gestação avançada possuem 64,7% do peso vivo em água;
Os animais mais jovens e as vacas magras possuem maior teor de água no corpo quando comparados aos animais mais velhos e às vacas gordas.
Sendo que, em ambos os casos, a porcentagem de presença desse nutriente pode variar bastante
Entender essa quantificação é crucial para que os produtores ofereçam a quantidade e qualidade certa para cada etapa da vida do animal. Afinal, curva de ingestão que está muito abaixo ou muito acima dessas porcentagens impacta diretamente na produtividade do rebanho.
Veja também: As Melhores práticas de Manejo Alimentar para Bovinos de Leite
Consumo X Perda de água:
Os animais conseguem água por 3 vias principais, que estão aqui enumeradas por ordem de grandeza:
- Ingestão voluntária de água em bebedouros e fontes naturais
- Dieta
- Processos metabólicos
Sim, a ingestão voluntária está em primeiro lugar!
Poucas pessoas sabem que 70 a 90% de toda a água presente em todas as etapas de vida do animal vem da ingestão voluntária, o que acaba tornando ainda mais crítico o trabalho do produtor para garantir que o animal consuma realmente o recomendado para cada fase dessa.
Quando falamos de perda de água, por outro lado, temos, também enumerados por ordem de grandeza:
- Da produção de leite
- Excreção urinária
- Excreção fecal
- Suor
- Evaporação
- Perda dos pulmões.
Desses 6 fatores, a produção de leite está em primeiro lugar, com maior fatia de responsabilidade pela perda de água das vacas.
Nesse caso, animais com produção de 33 kg de leite por dia, perdem em torno de 26 a 34% do total de água consumida na alimentação e ingestão voluntária.
Uma vez que já descobrimos que o consumo voluntário é tão importante para a manutenção da quantidade de água no organismo do animal, afinal representa o maior meio de consumo do nutriente, quais são os fatores que influenciam esse consumo e como os produtores podem melhorar sua rotina para garantir que ele seja realizado?
Consumo voluntário de água por vacas leiteiras
É fato que muitos fatores afetam o consumo voluntário da água.
No grupo de fatores que causam maior impacto estão a ingestão de matéria seca, o número de acessos aos comedouros, produção de leite e variações nas condições climáticas.
Por outro lado, entre os fatores que menos impactam o consumo voluntário estão o peso corporal e quantidade de sódio ingerido
Veja a lista completa de fatores que interferem na ingestão diária voluntária:
- Estado fisiológico do animal
- Quantidade de leite produzido
- O consumo de ração
- O peso corporal
- Temperatura ambiente
- Circulação do ar no ambiente
- Os tipos de dieta e sua composição
- A qualidade de uma determinada fonte de água
- Interações sociais e o comportamento dos animais
- Frequência e periodicidade de renovação e temperatura da água
É claro que nenhum fator dessa age isoladamente para aumentar ou diminuir a ingestão de água pelos seus animais.
Bebedouros
A quantidade de água ingerida por dia está diretamente relacionada com a ingestão em cada “bebida” e não ao número de “bebidas” por dia.
O tanto de vezes que a vaca vai ao bebedouro não é um fator muito determinante para a quantidade de consumo.
Para isso, você precisa garantir boas condições de qualidade e oferta desse nutriente nas vezes em que ela vai até o bebedouro.
Os picos de consumo de água estão relacionados com a ordenha dos animais e o momento da alimentação, vamos aos dados!
Essa diferença entre a quantidade de água ingerida nos momentos pós ordenha e no restante do dia/ durante a noite é causada por uma desidratação transitória que acontece logo após a extração do leite.
Como melhorar os bebedouros das vacas
Existem algumas boa práticas com bebedouros que podemos aplicar para aumentar o consumo voluntário de água.
Nessa imagem podemos ver as dimensões médias que um bebedouro de qualidade precisa ter, mas isso não significa que todos os produtores precisam comprar equipamentos sofisticados e caros.
É possível manter a mesma qualidade e dimensões do seu bebedouro utilizando materiais acessíveis e fáceis de manusear.
O estresse térmico
O consumo de água é um dos mecanismos que as vacas utilizam no combate ao excesso de temperatura corporal.
Então, estar atento à essa variável também é importante!
O motivo desse comportamento é a busca por uma reposição das perdas respiratórias, além de um possível resfriamento corporal pelo contato com a água mais fria.
Sabe-se que para cada aumento de 1°C na média da temperatura, há aumento de 1,2 litro de água ingerida.
A temperatura deve sempre ser avaliada em conjunto com a umidade relativa do ar. Afinal, quando o clima está mais úmido, os animais têm mais dificuldade em dissipar calor e podem entrar em estresse térmico mesmo estando em temperaturas mais baixas.
Para deixar uma referência, as vacas estão mais confortáveis em temperaturas de 15 a 21ºC com umidade não superior a 70%.
Saiba mais: Estresse térmico em vacas leiteiras, qual o impacto na minha produção? Veja o vídeo!
Palatabilidade x Minerais
Sulfato
Os animais que são submetidos a água com altas concentrações de sulfato, alteram seu padrão de consumo, bebendo com mais frequência durante a noite.
Além disso, quanto maior for a concentração de sulfatos na água oferecida, mais agressivos se tornam os animais nos momentos em que tentavam beber.
Atenção: A quantidade segura de presença de sulfato na água é até 1500 ppm.
Ferro
Depois dos sulfatos, o ferro na água de bebida é, provavelmente, o fator a mais importante para desqualificar a qualidade para o rebanho leiteiro.
Considerando que a deficiência de ferro em animais adultos é muito rara, porque há quantidades abundantes ferro nos alimentos, o excesso de ingestão de ferro total pode ser um problema para essas vacas, especialmente quando em altas concentrações na água.
A primeira preocupação é que as altas taxas de ferro na água de bebida podem reduzir a palatabilidade da água, causar intoxicações, como diarreias ou redução da produção e aumentar formação de lodo nas tubulações.
0 comentários