Matéria originalmente publicada no Jornal Diário do Comércio pela jornalista Michelle Valverde
A cetose é considerada uma das principais doenças do gado leiteiro. Ela ocorre em vacas de leite nas três primeiras semanas de lactação, quando o animal gasta mais energia do que consome.
O manejo para evitar a doença é considerada essencial, uma vez que a produtividade é reduzida e o tempo de um novo parto aumentado com a cetose, o que gera prejuízos para a atividade, que já tem a margem de lucro apertada.
De acordo com o Líder de Negócios da Prodap, empresa mineira especializada em oferecer tecnologias integradas para o agronegócio e de gerenciamento em nutrição animal, Rafael Carvalho, a cetose é uma desordem metabólica que acomete as vacas logo nas três primeiras semanas do pós-parto.
“Durante o período de transição – 21 dias antes do parto e 21 após -, é natural do animal ocorrer uma diminuição do consumo de alimento. Essa redução associada ao aumento das exigências nutricionais do animal no período levam a um desequilíbrio entre a demanda e a disponibilidade de energia. Isso faz com que esse animal entre em Balanço Energético Negativo (BEN), gastando mais energia que consome”, explica.
Ainda segundo Carvalho, quando o animal entra em balanço energético negativo, ocorre a queima da gordura do organismo e o animal passa a produzir corpos cetônicos que ficarão circulando no sangue. Além do menor consumo de energia, outros fatores também contribuem para o adoecimento do animal, como as condições ambientais inadequadas, estresse térmico e qualidade inferior do alimento oferecido.
“Se o animal está em estresse térmico, essa vaca terá uma redução de consumo pelas condições inapropriadas, o que vai potencializar o problema. A qualidade e a quantidade de dieta fornecida também precisam ser bem acompanhadas. Se for oferecida uma dieta de baixa qualidade para a vaca, naturalmente ela consumirá menos. O manejo também precisa ser especial, é importante que o animal tenha tempo suficiente para ingerir o alimento e descansar, caso contrário, o balanço energético será comprometido”, destaca.
Com o animal doente, os prejuízos na atividade são enormes. As perdas econômicas vão aumentando à medida que estes animais permanecem com a cetose. Quanto mais tempo demora para diagnosticar e resolver o problema, maiores são os prejuízos para as fazendas. Dentre eles estão a queda da produção de leite e a perda de eficiência reprodutiva.
“A vaca que fica um mês com cetose sem diagnóstico, ela não apresentará um pico de produção interessante e, provavelmente, pode até perder a produção de leite na lactação seguinte. Em relação à eficiência reprodutiva, após a vaca parir, em cerca de 60 dias, ela estará pronta para emprenhar novamente. Quanto ela apresenta problemas com cetose, ela não vai entrar em ciclo, adiando uma nova prenhez e atrasando a próxima lactação. Tudo isso gera muitos prejuízos”, afirma.
Baixa da imunidade – De acordo com Carvalho, com o organismo comprometido pela cetose, a imunidade do animal também fica reduzida, abrindo espaço para novas doenças, como mastite e deslocamento do abomaso (movimentação da estrutura do estômago), por exemplo.
Para evitar a cetose, é importante que o produtor rural adote cuidados antes mesmo do parto. O ideal é que a propriedade adéque a dieta das vacas no período de transição, que começa 2 dias antes do parto e vai até 21 dias após.
“Antes do parto, é interessante ofertar uma alimentação bem balanceada e a dieta aniônica. Já após o parto, o ideal é uma dieta rica em fibras de alta qualidade e com adensamento energético, que pode ser feito oferecendo ingrediente que tem alta energia, como a silagem de milho, por exemplo. Também existem dietas nas quais se utiliza o açúcar”, explica.
Outro cuidado necessário para evitar a cetose é o controle do escore corporal da vaca. As vacas que seguem do final da lactação para o pré-parto com escore elevado ou muito magras têm mais predisposição para apresentar cetose.
“Também podem ser utilizado drench oral ou coquetéis para a suplementação de glicose e alguns minerais como protocolo de parição, porque ajuda a reconstituir o animal mais rapidamente e reduz a chance de apresentar cetose”, diz Carvalho.
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