O período seco da vaca é uma fase de preparação para a próxima lactação, que normalmente tem início nos 60 dias anteriores ao parto.
Durante estes dois meses que faltam até o próximo parto, acontece a regeneração das células da glândula mamária.
O período seco pode ser dividido didaticamente em três fases: período de involução ativa, período de involução constante e período de lactogênese/colostrogênese. A primeira e a última fase são as que mais representam riscos para novas infecções intramamárias.
O período seco é negligenciado em muitas situações, onde produtores e técnicos não adotam estratégias para o controle da mastite e não implementam ações voltadas para o aumento da produtividade da lactação seguinte.
Período seco e mastite
O manejo das vacas no período seco é fundamental dentro de um programa de controle e erradicação de mastite.
O controle da mastite no período seco se baseia em três frentes:
1) Redução do número de quartos infectados no momento da secagem;
2) Diminuição da exposição do teto aos agentes;
3) Aumento da resistência do animal ao ataque dos microrganismos que conseguirem colonizar a glândula mamária.
O tratamento de vaca seca – ou terapia de vaca seca, é importante tanto para a prevenção de novos casos de mastite (principalmente os casos provocados por bactérias de origem ambiental) quanto para a cura de casos de mastite existentes, que ocorreram durante a lactação (especialmente casos de mastite contagiosa).
O risco de novas infecções intramamárias é muito alto nas duas semanas logo após a secagem, podendo resultar até mesmo em maiores taxas de novas infecções do que durante a lactação. Observe também que o número de infecções intramamárias aumenta novamente próximo ao parto.
As infecções ocorridas dentro do período seco têm forte relação com os casos clínicos observados no início da lactação. Essas infecções que ocorrem durante o período seco têm impacto direto sobre a produtividade do rebanho.
Alguns pesquisadores afirmam que mais da metade de casos clínicos de mastite por coliformes são originados no período seco.
Dessa forma, podemos pensar que grande parte dos casos de mastite clínica no rebanho podem ser evitados.
Saiba mais: Veja tudo sobre a Mastite e conheça o programa dos 6 pontos de controle!
Mas quais são os principais fatores que contribuem para infecções intramamárias no período seco?
Um fator importante e que às vezes é esquecido, é que as vacas passam por uma época de alterações metabólicas e de queda na imunidade durante o período de transição.
Sabe-se que o risco de infecções por microrganismos ambientais durante o período seco é maior. Isso é mais evidente em fazendas onde os ambientes de pré-parto e maternidade não oferecem condições adequadas para as vacas, como: altas temperaturas e muita umidade, falta de sombra, acúmulo de matéria orgânica e pouco conforto.
Além dos fatores mencionados acima, podemos citar outros como:
– Aumento da pressão interna do úbere pelo grande volume de leite acumulado;
– Maior facilidade para a penetração de microrganismos, devido à dilatação do canal do teto causada pelo acúmulo de leite;
– Interrupção das ordenhas, fazendo com o que o leite retido se torne um excelente substrato para o crescimento de bactérias;
– Mobilização das células de defesa para outras funções como remoção de células mortas e resíduos de leite;
– Interrupção da rotina de desinfecção na ordenha e consequente proliferação de bactérias na pele do teto.
Vantagens da realização da terapia de vaca seca
Apesar do risco de novas infecções ser mais alto no período seco, é comum observarmos taxas de cura maiores com a terapia de vaca seca, podendo ser o dobro das taxas de tratamentos feitos durante a lactação. Uma das razões para isso é a possibilidade de usar medicamentos com maiores concentrações de antibióticos.
Nos tratamentos convencionais de vacas em lactação existe a necessidade de descartar o leite com resíduo de antibióticos, o que representa um custo para o produtor. Com a terapia de vaca seca, a chance de contaminação do leite por resíduos é bem pequena, desde que o período mínimo de carência do medicamento seja respeitado.
As vacas que se curaram de infecções intramamárias com a terapia de vaca seca têm um aumento na vida útil dentro do rebanho, já que não precisaram passar por segregação ou até mesmo descarte. Essa é uma vantagem de grande custo-benefício para o produtor de leite.
Ainda podemos citar vantagens como a possibilidade de recuperação de lesões da glândula mamária causadas por patógenos e também a redução dos índices de mastite clínica da fazenda logo nas primeiras semanas após o parto.
É importante lembrar que as taxas de cura muitas vezes estão relacionadas com o agente causador da mastite. A terapia de vaca seca costuma ser muito eficaz contra o Streptococcus agalactiae, porém tem baixa efetividade contra o Staphylococcus aureus.
Mas devemos ter em mente que outros fatores como ocorrências de saúde e idade da vaca também influenciam na taxa de cura.
Como secar uma vaca em 7 passos simples
No dia da secagem, deve ser feita a infusão de um antibiótico intramamário específico para vacas secas em todos os quartos mamários. O ideal é que as vacas sejam monitoradas visualmente por duas semanas após a aplicação do antibiótico.
Recomenda-se que a cânula seja inserida parcialmente para não danificar o tampão de queratina do teto e para não “empurrar” os microrganismos para o interior do canal do teto, provocando assim uma contaminação indesejada.
Por isso, a higiene no momento da aplicação é fundamental!
Passo a passo:
- Esgotar completamente os tetos;
- Realizar a imersão dos tetos em solução de pré-dipping;
- Secar os tetos com papel toalha descartável após o tempo de ação do produto;
- Desinfetar a ponta dos tetos com produto específico ou com um algodão embebido em álcool 70%;
- Aplicar o medicamento utilizando a cânula curta;
- Massagear os tetos no sentido de baixo para cima para difundir o medicamento;
- Realizar a imersão dos tetos em solução de pós-dipping.
Terapia de vaca seca seletiva
No mundo todo, observa-se uma tendência de redução do uso de antimicrobianos em animais de produção. A pressão para o uso racional desses medicamentos é tanto por questões de saúde pública (humana e animal) quanto pelo aumento da resistência de microrganismos aos produtos comumente usados.
Em países da Europa como Holanda, Dinamarca e Suécia, o emprego da terapia de vaca seca seletiva já é uma realidade.
Mas no que consiste essa modalidade de tratamento?
Partindo do pressuposto que nem todas as vacas possuem uma infecção intramamária no momento da secagem, os defensores da terapia de vaca seca seletiva baseiam-se em vários fatores como cultura microbiológica, histórico de mastite clínica e CCS para determinar quais vacas receberão infusões de antibiótico intramamário no momento da secagem. Dessa forma, as vacas sadias serão secas apenas com o uso do selante de tetos.
Entretanto, os programas de controle e erradicação da mastite nesses países são muito mais avançados do que os programas brasileiros, sendo que alguns patógenos já são considerados como eliminados.
O objetivo aqui não é recomendar a terapia seletiva, é apenas apresentar uma tendência vista em alguns países. As condições brasileiras são diferentes e devem ser analisadas de maneira independente. Além disso, diversas pesquisas estão sendo realizadas para ampliar os conhecimentos e os efeitos dessa prática.
Uso de selantes de teto
Nas primeiras semanas após a secagem, começa a formação do tampão de queratina no teto das vacas, que nada mais é do que uma barreira contra as infecções intramamárias.
Entretanto, é muito comum haver falhas ou atraso na sua formação e, assim, a proteção é reduzida.
Para aumentar a proteção do teto e do ambiente interno da glândula mamária nestes casos, os selantes internos de teto foram criados com o objetivo de mimetizar o tampão de queratina. São constituídos de uma substância inerte, sem proteção antimicrobiana e cumprem a função do tampão natural, interrompendo a comunicação entre o interior da glândula mamária e o ambiente externo.
O selante fica aderido ao canal do teto durante todo o período seco e pode ser removido manualmente logo após o parto.
Em muitos casos, o uso do selante é associado ao antibiótico na terapia de vaca seca, incrementando a proteção da glândula mamária no período seco. Em fazendas que adotam a terapia de vaca seca seletiva, o uso do selante de tetos é indispensável.
O trabalho de consultoria da Prodap pode te ajudar com as melhores práticas de manejo do seu rebanho, deixe sua mensagem aqui e saiba como!
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