A produtividade e a lucratividade das vacas de leite podem ser determinadas por diversos fatores, sendo o manejo alimentar de bovinos um dos mais importantes.
Em uma fazenda leiteira, aproximadamente 75% das diferenças na produção de leite entre os animais têm influência dos fatores ambientais, dos quais a alimentação representa a maior parte.
Mas, em paralelo ao impacto sobre a produtividade das vacas em lactação, a alimentação do rebanho tem um custo efetivo significante, responsável por 40 a 60% dos custos variáveis, o que pode comprometer o planejamento financeiro do sistema como um todo.
Dessa forma, maximizar o consumo voluntário de alimentos, otimizando a conversão dos nutrientes presentes nas dietas em leite, é extremamente recomendado e é sobre isso que você irá aprender hoje.
Para transformar a fazenda em um sistema de produção economicamente mais viável e competitivo do ponto de vista zootécnico, se atente a esse tópicos!
Boas práticas Gerais de Manejo Alimentar
O consumo dos animais é regulado principalmente por aspectos físicos e metabólicos do rúmen, os quais são influenciados pela dieta, pelo ambiente e pelo próprio animal.
Assim, boas práticas de manejo alimentar devem ser seguidas para assegurar o consumo voluntário dos animais e/ou até mesmo evitar a sua restrição.
1. Esteja atento as possíveis diferenças nas dietas!
O animal pode não consumir o que você formulou, e isso é um enorme problema de planejamento!
Em nutrição de ruminantes, é necessário conhecer o animal para ter sucesso no manejo alimentar. De mesmo modo, independente do sistema de produção trabalhado, o nutricionista deve estar ciente que a dieta formulada inicialmente pode ser diferente da que está sendo consumida pelos animais.
De maneira geral, existem três classificações para as dietas:
A dieta formulada pelo nutricionista
Consiste no sincronismo ideal entre as exigências nutricionais dos animais, seja para crescimento, lactação ou gestação e a composição nutricional dos alimentos utilizados (proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas e minerais).
Dieta fabricada na fazenda
Engloba a mistura dos ingredientes da dieta e fornecimento da mesma para os animais.
Dieta consumida pelo animal
Corresponde à fração da dieta fabricada na fazenda, que foi consumida pelo animal após a sua capacidade de seleção, e essa seleção envolve vários fatores!
É preciso estar atento à palatabilidade dos alimentos, tamanho da partícula, mistura do concentrado ao volumoso, capacidade de consumo, período da lactação, disputa pelo cocho ou até mesmo pelo estado de saúde do animal naquele momento.
Para tentar reduzir as diferenças entre os três tipos de dietas, o nutricionista deve submeter os ingredientes utilizados na dieta à análise para determinação de sua composição sempre que possível.
Por outro lado, os colaboradores responsáveis pela fabricação e distribuição da dieta para os animais devem receber treinamentos rotineiramente, mantendo assim um bom manejo do trato.
2. Entenda mais como o animal reage aos nutrientes
A Fibra na dieta alimentar de Bovinos de Leite
Fisicamente, o teor de fibra da dieta é o fator que mais contribuiu para a restrição do consumo e vale lembrar que este pode ser avaliado através da porcentagem de FDN na dieta.
O rebanho deve consumir no máximo 1,1 – 1,2% do peso vivo de FDN na dieta total para evitar, teoricamente, o enchimento físico do rúmen e consequentemente limitar o consumo.
É preciso entender que quanto maior o teor de fibra dos alimentos, menor será o seu valor nutricional. Isso acontece, pois alimentos ricos em fibra tem degradação mais lenta no rúmen, resultando em menor taxa de passagem do alimento pelo trato digestivo do animal.
Dessa forma, os receptores de pressão de baixo limiar que estão presentes no rúmen, ao captarem a distensão ruminal, irão inibir o consumo por mecanismo de feedback ao sistema nervoso central.
Vale ressaltar que a capacidade de distensão do rúmen varia conforme a produção de leite do animal afinal, quanto maior a produção de leite, maior será a necessidade em consumir alimentos e consequentemente maior a tolerância do animal quanto à distensão do rúmen.
No que diz respeito à regulação metabólica pelo animal, o sincronismo entre os teores de proteína e energia é de extrema importância. Quando esses nutrientes estão desbalanceados, excedendo ás exigências nutricionais dos animais, por exemplo, o consumo é limitado.
Saiba mais: Conheça os conceitos básicos para a formulação de dietas para bovinos leiteiros!
Utilização de Gordura e Tamponantes na Dieta
As gorduras são alimentos utilizados principalmente para aumentar a densidade energética da dieta, fazendo com que as vacas em lactação respondam em produção de leite.
Também podem ser utilizadas como estratégia para minimizar os efeitos do estresse calórico em vacas de alta produção, pois liberam menos calor durante o seu metabolismo quando comparado aos carboidratos.
As gorduras podem ser classificadas conforme o tamanho da cadeia dos ácidos graxos e o número de ligações entre eles, o que determinará o grau de saturação do alimento.
Duas formas de gordura nas dietas bovinas:
- Vegetal
- Animal
A inclusão total de gordura na dieta não deve exceder 6-7% devido aos seus possíveis efeitos sobre a fermentação ruminal, motilidade do trato gastrointestinal, liberação de hormônios digestivos e oxidação pelo fígado.
Isso acontece porque todos os efeitos da gordura, quando associados à sua baixa palatabilidade, podem ocasionar redução significativa no consumo dos animais.
Além disso, em vacas recém paridas que estão em balanço energético negativo, e por essa razão já têm o consumo reduzido, recomenda-se utilizar valores inferiores a 6%, como forma de segurança.
A Realidade Brasileira
Os tamponantes mais presentes em dietas brasileiras são bicarbonato de sódio, carbonato de sódio e óxido de magnésio, sendo fornecidos na proporção de 0.6 a 0.8% da matéria seca ou 1.2 a 1.6% do concentrado.
Esses alimentos podem ser incluídos nas dietas de rebanhos leiteiros, principalmente para vacas de alta produção e no início da lactação como estratégia para reduzir distúrbios digestivos ou manter a porcentagem de gordura no leite, quando as dietas fornecidas são ricas em carboidratos de rápida fermentação.
Também é uma boa prática do nutricionista considerar as restrições no manejo geral da fazenda, como por exemplo, tamanho de partícula dos volumosos, fornecimento separado de concentrado e volumoso, ou intervalos irregulares na alimentação dos animais.
Nesse caso, dependendo desses fatores, geralmente trabalha-se com recomendação inferior de FDN nas dietas.
3. A Importância da Água
A água pode ser considerada o nutriente mais importante para a vaca leiteira sendo utilizada em muitos processos fisiológicos, como por exemplo, desenvolvimento fetal, transporte, digestão e metabolismo dos nutrientes, controle da temperatura corporal, e é claro, produção de leite.
Segundo Michel Wattiaux, da Universidade de Winsconsin, a produção de leite em uma fazenda diminui imediatamente na restrição ou ausência de água para os animais, afinal as vacas em lactação precisam ingerir aproximadamente 2,6 kg de água para produzir 1 litro de leite.
A ingestão total de água pode ser calculada pela somatória da água contida nos alimentos (4,1 kg de água a cada 1 kg de matéria seca da dieta consumida) mais a água ingerida espontaneamente.
Vale lembrar que 75% dá água é ingerida durante o dia enquanto 25% é ingerida a noite e 40 a 60% da necessidade de água é suprida após a ordenha.
Sombra e Água Fresca!
Bebedouros
Os bebedouros devem ser planejados e ergonômicos para facilitar a higienização e a renovação constante de água limpa. Cada bebedouro deve atender 15 a 20 vacas, com 5 a 10 cm lineares de acesso disponíveis para cada animal, 15 cm de profundidade e com vazão de 38 litros por minuto.
Água para animais jovens
A água é um componente depositado em grande quantidade durante o crescimento e dessa forma, é de grande importância para os animais jovens.
Por mais que a maior parte da água ingerida venha do leite ou sucedâneo do leite que recebem, bezerros que tiveram disponibilidade de água à vontade além do fornecimento do leite são muito mais produtivos.
Os número indicam que essem consomem 31% mais concentrado e têm desempenho 38% maior do que aqueles que receberam água somente via dieta líquida.
Sombreamento
Seja natural ou artificial é extremamente importante para os bovinos de leite, em especial para as raças de clima temperado manejadas em clima tropical. A sombra deve ser planejada de modo que esteja em uma distância próxima do cocho e da água.
São necessários aproximadamente 5 metros quadrados de sombra por vaca, dispostos no sentido Norte/Sul. Para sombras naturais, o eucalipto é uma boa sugestão, devendo ser plantado em linhas duplas, com espaçamento de no mínimo 1,5 metros entre as mudas.
Caso o produtor prefira sombras artificiais, o sombrite é uma boa opção. Nesse caso, é necessário projetá-lo com pé direito de 3 metros para facilitar a circulação do ar. Embora exista disponíveis no mercado sombrites com diferentes níveis de sombreamento, os materiais capazes de gerar acima de 80% de sombreamento são mais recomendados.
Práticas de manejo alimentar para vacas de leite alimentadas no cocho.
De maneira geral, é mais provável que as vacas de leite confinadas consumam de forma mais assertiva, a dieta total formulada desde que a propriedade atenda os requisitos mínimos de manejo alimentar, tanto do ponto de vista nutricional, quanto operacional.
Quando os animais são alimentados em cocheiras, seja em sistema intensivo durante o ano todo ou em sistema semi-intensivo em alguns períodos do ano, a divisão dos animais em lotes é recorrente.
Divisão de Lotes
Estas divisões tem como objetivo reunir um determinado número de animais com a mesma exigência nutricional ou com uma pequena variação, deixando o lote homogêneo.
Dessa forma, o nutricionista pode desafiar os lotes com maior probabilidade em produzir mais leite e reduzir os custos de alimentação da propriedade, ao formular dietas com menor teor de proteína e energia para os animais mais avançados na curva de lactação.
Mas como dividir?
Fatores importantes para o agrupamento
- Ordem de partos
- Produção de leite
- Escore corporal
- Dias em lactação
- Situação reprodutiva
No entanto, alguns cuidados devem ser tomados, nunca é bom que o loteamento dos animais se torne limitado pelo espaço físico dos cochos nos quais o rebanho será alimentado.
É sabido que quando há comida disponível durante 20 horas por dia, as vacas passam entre 3 e 5 horas se alimentando e ao longo desse período os animais vão ao cocho em média 11 vezes.
É necessário garantir o mínimo de 46 cm lineares em espaçamento de cocho quando há disponibilidade constante de alimentos ao longo do dia ou 0,8 a 1 metro quando o acesso ao alimento é limitado ou quando é necessário agrupar primíparas e multíparas em um mesmo lote.
Rotina
Os bovinos são animais que prezam pela rotina e isso significa que a qualidade da dieta fornecida, assim como os horários da alimentação são essenciais em qualquer fazenda para que produção de leite diária seja consistente.
Pensando nisso, é necessário vistoriar e garantir que os animais estejam recebendo alimentos semelhantes e isso não é uma tarefa fácil. As silagens de milho, por exemplo, podem ter teores de umidade e tamanho de partículas diferentes, fazendo com que o consumo dos animais oscile.
Silagens mais úmidas, com teor de matéria seca próximo a 30% facilitam o consumo e evitam a seleção dos animais durante a alimentação. No entanto, à medida que o teor de umidade aumenta, o alimento se torna mais perecível, ao ponto de reduzir o consumo devido a maior concentração de ácido butírico, o qual altera a palatabilidade da silagem.
No que diz respeito ao tamanho de partícula das silagens, a moagem mais fina do alimento durante o processo de ensilagem ou durante a mistura do volumoso ao concentrado nos vagões forrageiros, pode elevar a taxa de passagem do alimento no trato gastrintestinal e acarretar aumento do consumo de matéria seca e de nutrientes.
Contudo, a digestibilidade do alimento pode não aumentar devido ao fluxo da digesta ao longo do trato gastrointestinal estar mais rápido.
Além disso, o aumento na taxa de passagem reduz o tempo de ruminação o que pode ser considerado como fator de risco à acidose ruminal, distúrbio alimentar que pode reduzir o consumo dos animais pela elevada produção de ácido lático e redução intensa do ph ruminal.
Frequência e mistura da alimentação
Em relação à frequência e mistura de alimentação, é imprescindível que uma refeição alcance a outra, ou seja, deve haver sobra da dieta nas cocheiras entre os períodos em que a dieta for fornecida. Vale ressaltar nesse momento a diferença entre sobra e resto.
A sobra consiste no alimento com a mesma aparência e temperatura similar à fornecida inicialmente. Já o resto, pode ser considerado como alimento azedo, quente ou estragado, é na verdade o que foi refugado pelos animais.
Para atingir a porcentagem das sobras entre 3 e 5% da matéria natural fornecida, uma prática de manejo simples e eficaz é mexer na comida, para despertar a curiosidade dos animais estimulando-os a saírem do local de descanso em direção a cocheira.
O padrão ouro nesse quesito é mexer ou empurrar a dieta a cada 30 minutos, duas horas após o seu fornecimento. É extremamente desejável que os animais recebam a dieta total, tendo como objetivo a mistura do concentrado com a forragem para diminuir seleção.
Além disso, essa prática garante a ingestão e diminue a velocidade de consumo de grãos, fazendo com que os animais aumentem a produção de leite, tenham maior saúde de rúmen e consumam melhor os alimentos de baixa palatabilidade.
Práticas de Manejo Alimentar para vacas de leite a pasto
Em sistemas a pastos de produção de leite, pode-se perceber um novo enfoque no manejo da forragem utilizada, baseado atualmente na interceptação luminosa e não mais utilizando calendários fixos do período de descanso dos piquetes.
Nessa nova estratégia, quando o dossel forrageiro atinge 95% da interceptação luminosa pode-se considerar que o balanço entre os processos de crescimento e senescência dos tecidos da planta seria máximo, permitindo maior acúmulo de matéria seca por hectare manejado.
Dessa forma, é possível melhorar significativamente o desempenho dos animais em produzir leite ou ganhar peso devido ao maior número de ciclos de pastejo com forragem de maior qualidade bromatológica.
Ou seja, maior proporção das folhas em relação às hastes e ao material em senescência.
O mais interessante é o fato desse novo conceito em manejo do pastejo chegar aos produtores rurais de forma muito prática afinal, cada espécie forrageira ao atingir os 95% de interceptação luminosa, tem uma altura fixa padrão do dossel forrageiro, conhecido também como altura de entrada.
Assim, o manejo dos piquetes na fazenda se resumirá no colaborador mensurar a altura das forrageiras para a entrada dos animais e retirá-los quando essa altura estiver 50% menor à inicial.
[Bônus] Como Monitorar a Ingestão de Matéria Seca?
Para monitorar a ingestão de matéria seca pelos animais a pasto uma amostragem da forragem pode ser realizada de maneira bem simples, antes das vacas entrarem nos piquetes.
Essa prática irá simular o pastejo dos animais e dessa forma, é necessário cortar em pelo menos quatro locais aleatórios do piquete, um quadrante de 0,25 metros quadrados na altura de saída da forragem.
Feito isso, é necessário pesar as amostras e confeccionar uma subamostra para análise da matéria seca, realizando os devidos cálculos proporcionais à área total dividida pelo número de animais em pastejo.
Saiba mais: veja como aumentar o consumo de matéria seca de bovinos de leite!
Os animais a pasto não devem percorrer grandes distâncias entre os piquetes e o curral, sendo que caminhadas de 300 metros lineares já podem ocasionar na redução da produção de leite.
Associado a isso, para preservar a integridade dos cascos das vacas, os corredores devem ser planejados de modo que objetos pontiagudos e com quinas sejam evitados, assim como o acúmulo de lama.
Lembre-se! Os animais devem ser conduzidos o mais lentamente possível e as suas necessidades de água e sombra devem ser respeitadas.
Diante ao que foi dito nesse texto, as melhores práticas no manejo alimentar dos bovinos de leite podem ser resumidas no estabelecimento de estratégias para que o consumo máximo de matéria seca seja alcançado.
Afinal, isso evita alterações na rotina operacional e nutricional dos animais e prioriza a saúde dos bovinos de leite a partir do conhecimento das suas exigências fisiológicas baseadas no conforto e bem estar animal.
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