Também conhecida como febre do leite, ou paresia puerperal, a hipocalcemia é uma comorbidade do metabolismo que acomete os bovinos – normalmente as vacas leiteiras que, em sua maioria, são saudáveis.
Essa doença acontece no período de transição, que vai do pré-parto ao início da fase de lactação. É comum nas primeiras 72 horas após o parto, porém, em casos raros, pode acontecer em até dois meses após o nascimento do bezerro.
Mas afinal, quais são os sintomas da hipocalcemia? Como prevenir essa doença? Existe algum tipo de tratamento? Traremos todas as respostas neste texto!
O que é a hipocalcemia em bovinos?
A hipocalcemia é a baixa quantidade de cálcio no sangue. O que faz com que o animal não consiga levantar após o parto, por falta de minerais que auxiliam nas funções nervosas e musculares.
Esta alteração está relacionada a alta demanda do cálcio pela glândula mamária e mecanismos fisiológicos do parto.
As mudanças de estado fisiológico da vaca leiteira durante o período de transição ocorrem em um período de tempo muito curto, insuficiente para que o animal consiga ativar os mecanismos existentes para a manutenção de níveis normais de cálcio no sangue.
Estudos mostram que entre 40% e 50% dos animais apresentam deficiência de cálcio, porém de forma imperceptível.
Já o número de animais que apresentam sintomas é bem menor, ficando em 3% e 15% dos rebanhos em todo o Brasil.
A maior incidência é entre as vacas leiteiras mais velhas (a partir da terceira cria), pois estes animais têm menor reabsorção óssea de cálcio.
Sintomas da hipocalcemia
Os sintomas da hipocalcemia variam de acordo com a deficiência de cálcio que o animal apresenta.
É considerado uma doença quando os níveis do mineral estão abaixo de 8,5 mg/dl.
Confira na tabela abaixo:
Quais são as causas da hipocalcemia?
Os níveis de cálcio são regulados por alguns hormônios como o paratormônio (PTH), por exemplo.
Na fase de pré-parto o organismo da vaca exige menos cálcio, contudo, as dietas das fazendas costumam ser ricas no mineral.
Isso faz com que o pH fique acima do nível ideal para o PTH agir.
Sendo assim, as concentrações do PTH ficam baixas — devido ao aumento da reabsorção renal de cálcio — e a calcitonina (Hormônio responsável pela regulação do cálcio na corrente sanguínea) está aumentada, o que diminui a reabsorção óssea do cálcio.
Já no dia do parto, os níveis de cálcio necessários para a produção de colostro são muito maiores do que a quantidade existente no sangue do animal. Além disso, a homeostase de cálcio demora em média 48 horas para ocorrer.
Esse tempo é o que chamamos período de transição, no qual a vaca passa por um quadro de hipocalcemia.
Veja tudo sobre o período de transição de vacas leiteiras e como fazer um bom manejo Pré Parto?
Fatores de risco para hipocalcemia
São vários os motivos que colaboram para a hipocalcemia. Abaixo listamos alguns deles para que você consiga prevenir o seu rebanho.
- baixos níveis de hormônio da paratireóide – o que interfere na regulação de cálcio;
- ausência de glândulas paratireoides no nascimento;
- a presença de níveis baixos de magnésio, reduzindo a atividade do hormônio da paratireóide;
- deficiência de vitamina D;
- disfunção renal;
- má alimentação;
- pancreatite;
- doenças que diminuem a absorção de cálcio pelo organismo.
Diagnóstico
O diagnóstico da hipocalcemia é feito por meio de um exame clínico completo, no qual o médico veterinário examina o úbere do animal, as frequências cardíacas e respiratórias, o sistema digestivo e as mucosas.
Problemas associados à hipocalcemia
Além dos próprios sintomas da hipocalcemia, ela contribui ainda para o desenvolvimento de outros problemas como:
- perda de tônus muscular;
- relaxamento da musculatura lisa do útero, do esfíncter mamário e do trato digestivo;
- retenção de placenta;
- mastite;
- deslocamento de abomaso;
- cetose;
- Metrite
Prejuízos para a produção de leite
A estimativa é que animais com pouco cálcio tenham uma queda na produção de leite em torno de 14%.
A redução da vida produtiva e a queda de produção do animal são outros fatores que trazem prejuízos para o produtor.
Além destes, o aumento do número de infecções uterinas, mastite e o aumento de gastos com tratamento são outros fatores que trazem prejuízos para a sua fazenda, deixando o custo da produção mais caro.
Veja na tabela abaixo as estimativas de perdas na produção de leite devido aos principais distúrbios metabólicos do peri-parto:
Tratamento para os sintomas da hipocalcemia
O tratamento dos sintomas da hipocalcemia é feito pela reposição de cálcio no organismo.
Recomenda-se a administração de até 1L de Ca, pela via endovenosa e de forma lenta
É possível também utilizar parte desta quantidade (cerca de 200 ml), por meio da aplicação subcutânea.
Caso persista alguns sintomas o tratamento poderá ser repetido.
É importante ressaltar que a aplicação precisa ser feita por um médico veterinário ou algum profissional que tenha conhecimento técnico para realizar o procedimento.
Caso esse profissional ache necessário, é possível também fazer a aplicação de “Drench” -— suplemento mineral e energético — no pós parto.
Prevenção da hipocalcemia
Prevenir é melhor do que remediar. Esse ditado é velho, mas traduz as melhores práticas para evitar a hipocalcemia e os seus sintomas.
A primeira dica é reduzir o fornecimento de cálcio para os animais antes do parto.
A segunda, é trabalhar com dietas aniônicas no pré-parto. Vale ressaltar, mais uma vez, que estas ações devem ser feitas sempre com a orientação de um profissional capacitado.
O que é dieta aniônica?
A dieta aniônica é muito importante no pré-parto, pois ativa mecanismos capazes de aumentar o cálcio no sangue.
O que a caracteriza uma dieta aniônica é a maior concentração de ânions em relação a concentração de cátions. Os cátions e ânions são os eletrólitos da dieta.
Os ânions têm carga negativa, por exemplo: cloro (Cl–), enxofre (S-2 e SO4-2) e fósforo (HPO4-2). Já os cátions possuem carga positiva, tendo como exemplo o sódio (Na+), potássio (K+), cálcio Ca++) e o magnésio (Mg++).
Se a diferença cátion aniônica da dieta (DCAD) é positiva, a dieta é considerada mais catiônica e quando negativo, é considerada mais aniônica.
A dieta aniônica ideal tem DCAD entre –10 e –20 meq/100 g de MS (matéria seca).
Como a dieta aniônica previne a hipocalcemia em vacas
O fornecimento de uma dieta aniônica torna o pH do sangue mais ácido.
A acidez do sangue estimula a ação do paratormônio e vitamina D, que causam a mobilização do cálcio dos ossos para o sangue, aumentando também a absorção intestinal e reduzindo a excreção urinária de Ca.
Um método fácil e barato de monitorar o efeito dos sais aniônicos sobre o equilíbrio ácido-básico é a medição do pH urinário.
Para que os mecanismos de manutenção da calcemia estejam ativos ao parto, recomenda-se o uso de dietas aniônicas por um período mínimo de 21 dias antes do parto.
Para te auxiliar na tomada de decisões para um protocolo mais adequado no tratamento dos animais, o Prodap Smartmilk possui ferramentas que possibilitam melhores análises das principais doenças a partir de suas incidências e dispersões ao ano.
Além da possibilidade de fazer lançamentos para registro e controles futuros.
Como vimos, os sintomas da hipocalcemia podem trazer alguns prejuízos para a produção de leite da sua propriedade. Por isso, o investimento na prevenção é sempre o melhor caminho.
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