A adoção das boas práticas de manejo na ordenha é ponto fundamental para o sucesso da atividade leiteira.
Isso porque é o momento da ordenha é quando você irá colher o produto que garante toda a receita da fazenda.
Por isso, neste texto vamos te mostrar:
- Ocitocina e o reflexo de ejeção do leite
- Rotina de ordenha
- O passo a passo do manejo de ordenha eficiente
- Como escolher o pré dipping
- O que fazer antes e depois da ordenha
- Os 4 passos essenciais para a limpeza e desinfecção na ordenha
- E muito mais!
Ah! E ao final deste texto eu tenho uma surpresa para você!
A ocitocina
A ocitocina é um hormônio que tem diversas funções. Dentre elas, a de contrações uterinas durante o parto e a promoção da descida do leite.
O processo de ordenha requer elevadas concentrações de ocitocina, pois intensifica a remoção do leite ao impedir que as células mioepiteliais relaxem e que o leite volte aos alvéolos e pequenos ductos.
Por isso, um dos principais pontos a se atentar durante o momento da ordenha de vacas leiteiras é a tranquilidade dos animais, pois a adrenalina (hormônio liberado durante o estresse do animal) bloqueia os receptores de ocitocina.
Seguindo este raciocínio, todos os fatores que estimulem a liberação de adrenalina devem ser evitados, como gritos, pressa ao manejar as vacas, tapas ou outros tipos de agressões.
Estímulo de liberação de ocitocina
Dentre os estímulos para a liberação de ocitocina, podemos citar:
- Amamentação
- Presença do bezerro
- Palpação do úbere
- Estímulos associados à ordenha, como a movimentação de baldes e a presença do ordenhador
- Visão, olfato e sons associados à ordenha
Cerca de 30% do leite dos bovinos permanece armazenado em cisternas disponível para ordenha, enquanto os outros 70% fica nos alvéolos, por isso o reflexo de ejeção do leite é tão importante.
Após a estimulação dos tetos, a contração iniciará em 30 a 120 segundos (depende do grau de enchimento do úbere), por isso, o conjunto de ordenha deve ser colocado em até 90 segundos após o estímulo inicial, garantindo a extração do leite de forma mais completa.
Ocitocina injetável
Quando é administrado no animal a ocitocina injetável, a concentração desse hormônio é aumentada e a contração mioepitelial é prolongada.
Um ponto negativo dessa prática é que as doses de ocitocina injetadas serão muito maiores do que as encontradas naturalmente no organismo do animal, o que desencadeia uma dessensibilização dos receptores de ocitocina nas células miopiteliais, ou seja, tornará a vaca dependente desse estímulo.
Veja também: O que é Tripanossomose bovina, transmissão, diagnóstico e tratamento
Rotina de ordenha
Podemos citar como os objetivos da rotinha de ordenha:
- Desinfecção dos tetos
- Detecção de mastite clínica
- Estimular os tetos
Estes objetivos devem ser cumpridos de forma amigável para a vaca e eficiente para o ordenhador.
Os tipos de rotina de ordenha podem ser divididos em dois: sequencial ou território.
No tipo sequencial há uma divisão de tarefas no qual um ordenhador faz o teste da caneca e o pré dipping nas vacas, enquanto um segundo ordenhador vai secando e acoplando os conjuntos na sequência.
Já no tipo territorial, há uma divisão do número de vacas para cada ordenhador trabalhar, por exemplo: se tem 8 vacas e 2 ordenhadores, cada ordenhador fica responsável por todas as tarefas com 4 vacas.
Manejo de ordenha
Os passos indispensáveis para um manejo de ordenha adequado, que seja rápido, completo e sem causar injúrias aos tetos das vacas passam pelas seguintes etapas:
- Teste da caneca
- Pré dipping
- Secagem dos tetos
- Acoplamento do conjunto de teteiras
- Pós dipping
Vamos conversar sobre cada etapa pontualmente?
Antes da ordenha
Antes mesmo do momento da ordenha já devemos nos atentar para alguns pontos que fazem toda diferença.
O deslocamento dos animais para a sala de espera deve ser feito de forma calma e cuidadosa, sem gritos, tapas ou correria.
Uma outra estratégia importante é o resfriamento na sala de espera, no qual diversos estudos têm mostrado as vantagens dessa prática antes da ordenha.
Veja um breve vídeo de como a Julia Silveira, consultora do time leite aqui na Prodap, aumentou 300 litros de leite na produção sem acrescentar nenhuma vaca no rebanho:
Uso de luvas
O uso de luvas durante toda a rotina de ordenha é essencial para a diminuição da transmissão de bactérias causadoras de mastite que ficam aderidas às mãos do ordenhador, além de garantir a manutenção da integridade física da pele das mãos.
Teste da caneca de fundo preto
O teste da caneca é feito para diagnosticar casos de mastite clínica, além de servir para eliminar o leite da cisterna que possui maior número de bactérias e estimular a descida do leite.
Para isso, antes de toda ordenha são retirados de 3 a 4 jatos de leite em uma caneca telada e observa-se se há alterações visíveis no leite, como grumos, sangue, coágulos, pus ou alteração de cor.
Pré-dipping
O pré dipping é uma etapa fundamental da rotina de ordenha, no qual é feita a imersão completa dos tetos em solução desinfetante.
Isso porque as bactérias que vivem no ambiente podem contaminar o úbere quando a vaca deita em algum lugar, por exemplo.
Mas lembre-se: contaminação é diferente de infecção.
Contaminação é apenas a presença da bactéria no local. Mas quando a bactéria entra no canal do teto, ocorre a infecção (o que causa a mastite).
Por isso o pré dipping é tão importante, já que ele tem a função de eliminar as bactérias que estão contaminando o teto e podem causar infecção.
Como escolher o pré dipping?
Para a escolha do produto podemos levar em consideração o efeito limpante.
É desejável que o produto tenha um ótimo efeito de limpeza dos tetos para remover as sujidades que contaminaram o teto enquanto a vaca estava no ambiente.
Os mais usados são: cloro (2 a 4%), iodo (0,5 a 1%), clorexidina (0,5%), ácido sulfônico dodecil benzeno (2%), ácido láctico.
Alguns podem ser usados como espuma ou realizado um duplo pré.
Estudos mostram que o iodo é o produto com maior eficiência na eliminação de bactérias, mas o cloro se assemelha muito a este resultado quando pensamos no seu alto poder de limpeza.
Secagem dos tetos
A secagem dos tetos é, quando feita de forma correta, tem as seguintes funções:
- Evitar riscos de contaminação do leite com a solução utilizada no pré-dipping
- Evitar o deslizamento de teteiras
- Evita a contaminação dos tetos, diminuindo o risco de novas infecções de glândula mamária
- Garante a eficácia do pré dipping
A secagem deve ser feita após 30 segundos da aplicação do pré-dipping, iniciando pelos tetos mais distantes, utilizando um papel toalha por teto.
Atenção para o manejo de limpeza de toalhas usadas neste processo de secagem.
Os benefícios envolvendo o uso das toalhas são a resistência do material, facilitando o trabalho do ordenhador e o menor impacto ambiental, por exemplo.
Já as desvantagens são relacionadas à necessidade de uma máquina de lavar bem dimensionada para o volume de toalhas, uso de desinfetantes próprios
Colocar os conjuntos de ordenha
O conjunto de ordenha deve ser colocado até 90 segundos após a retirada dos primeiros jatos de leite no teste da caneca.
A manutenção do equipamento de ordenha é extremamente importante para uma rotina eficiente, garantindo o funcionamento adequado, realizando as trocas de teteira e mangueiras.
Quando o fluxo de leite atingir <0,5 litros de leite por minuto, o conjunto deve ser retirado para evitar possíveis lesões no teto (sobreordenha)
O vácuo
O nível de vácuo corresponde a uma pressão negativa no interior do equipamento de ordenha essencial para a saída do leite da glândula mamária.
O nível de vácuo correto e constante é necessário para manter a extração do leite sem causar lesões nos tetos.
Quando o nível de vácuo está alto, observamos alterações após a remoção do aparelho como a congestão no teto da vaca e a hiperqueratose, além de causar desconforto na vaca, fazendo com que ela sapateie para tirar o conjunto ou defeque.
Já na situação em que o nível de vácuo está baixo ocorre o deslizamento da teteira e a ordenha fica mais lenta
Pós dipping
Após a ordenha, o próximo e último passo a ser realizado é imergir completamente o teto em solução desinfetante pós-dipping.
O pós dipping tem como função a eliminação das bactérias que contaminaram o teto da vaca após ou durante a ordenha.
Ao acoplar um conjunto de ordenha em uma vaca, as bactérias presentes no teto e no leite da vaca anterior que usou o conjunto irão contaminar a vaca atual.
O pós dipping atua eliminando essas bactérias adquiridas durante o momento de ordenha da vaca anterior, ou seja, eliminar bactérias contagiosas (Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae)
O produto mais usado nesta etapa é o iodo por apresentar a maior eficiência na eliminação de bactérias quando comparado aos outros, além do efeito barreira.
O ácido lático é o segundo produto mais usado como pós dipping, ele tem efeito barreira e tem como vantagem uma melhora nas condições dos tetos das vacas.
Após a ordenha
Após a ordenha o ideal é programar o manejo para evitar que as vacas se deitem imediatamente após ordenha, porque após a ordenha o esfíncter do teto permanece aberto em média 40 minutos.
Além disso, estimular a alimentação e ingestão de água é muito desejável.
4 passos essenciais para a limpeza e desinfecção na ordenha
O leite é um alimento que possui em sua composição gorduras, proteínas, sólidos, vitaminas e minerais, entre várias outras substâncias.
Durante o processo de ordenha, esses componentes podem se aderir a tubulação de leite e servir como substrato para a multiplicação de microrganismos.
Isto pode acarretar em alguns problemas, como um aumento nos níveis de CBT do tanque.
Por isso, é muito importante realizar a correta limpeza do equipamento após a ordenha
Em sistemas de ordenha que usam a limpeza por circulação, CIP, o fluxo de limpeza após a ordenha deve ser feito na seguinte ordem:
- Enxágue inicial
- Limpeza com detergente alcalino clorado
- Limpeza com detergente ácido
Além disso, há a necessidade de realizar a sanitização do equipamento antes do início da ordenha
1º passo
O início da limpeza do equipamento deve ter início imediatamente após o final da ordenha, enquanto a tubulação ainda estiver morna.
O enxágue inicial é feito para remover os componentes solúveis do leite.
Nesse processo é recomendado utilizar água morna, acima de 35ºC abaixo de 50ºC. Essas temperaturas garantem que não ocorram a solidificação da gordura nem a desnaturação das proteínas, respectivamente.
O ideal é que nessa etapa não haja recirculação de água e que ao final do enxágue a água saia límpida.
2º Passo
O próximo passo é a limpeza com o detergente alcalino clorado.
Esse produto tem por função realizar a saponificação da gordura nas soluções de limpeza (SANTOS et al., 2019) e também auxiliar na remoção de proteínas.
Para uma boa ação, a água com detergente alcalino clorado deve entrar no sistema de ordenha a 70ºC e sair com a temperatura acima de 40ºC, circulando no equipamento por cerca de 10 minutos.
Além disso, deve-se realizar a correta diluição do produto, a alcalinidade recomendada para a solução é de 250 a 500 ppm.
3º Passo
Por fim, é realizada a limpeza com detergente ácido.
Este produto remove do sistema de ordenha os depósitos de minerais que vieram do leite e da água e formam a popular “pedra do leite”.
A limpeza com o detergente ácido pode ser feita com água a temperatura ambiente ou levemente aquecida (35 a 43ºC) e o produto deve circular por 5 minutos.
Não há necessidade de realizar a limpeza com esse produto em todas as ordenhas, pode-se realizar a aplicação diária (na última ordenha) ou em dias alternados durante a semana.
A solução de detergente ácido deve apresentar pH ≤3,5 para garantir a eficiência da limpeza.
4º Passo
Além da limpeza do equipamento, ao final da ordenha é necessário também realizar a sanitização antes do início.
Esse processo é realizado a fim de reduzir a contaminação bacteriana.
São usados, principalmente, produtos a base de cloro, de forma que após a diluição em água a solução fique com concentrações aproximadas de 100 a 200 ppm de cloro.
A limpeza correta do equipamento de ordenha garante que o leite seja produzido de maneira higiênica, garantindo a mínima contaminação bacteriana e ainda é benéfica para o produtor, já que reduz os níveis de CBT do tanque e pode gerar bonificação por qualidade.
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